Resenha do filme “Maomé, o Mensageiro de Alá”.
Sérgio
Donizeti Ferreira
O filme Maomé, o Mensageiro de Alá, produzido com a finalidade de demonstrar o modo como surgiu o Islã, trata de maneira poética da fundação e do desenvolvimento tumultuado desta nova religião.
O
elemento mais presente no filme é o deserto, bem como as culturas dos povos
nele situadas.
O
filme, à guisa de uma narrativa, expõe genericamente o que acontecia em Meca,
bem como com os ditos povos árabes, por volta do ano 600 d. C.. Ao redor desta
grande península arábica grandes impérios e civilizações achavam-se em decadência. Em
Meca realizava-se a festa que agregava um sem numero de
deuses que ficavam reunidos na Kaaba, a grande pedra negra. Nota-se o quanto as
tribos acreditavam e cultuavam seus deuses próprios, deuses naturais, cada um
ligado a um aspecto específico da vida, geralmente a algo de que os homens
tinham necessidade.
A
reunião desses deuses tinha um aspecto comercial, lucrava-se muito com este
evento; os chefes de Meca sabiam bem disso, apesar de bastante céticos mantinham
este esquema, pois lhes era conveniente: dava lucro e mantinha a coesão social.
Quando
Maomé apareceu no cenário com uma crítica contundente ao esquema em vigor,
alegando que Alá é o único Deus, cria-se
uma celeuma e dividem-se as opiniões dos cidadãos acerca desta proposta.
Alguns
jovens seguem a Maomé e por isso sofrem perseguição.
O filme conta a história
do Islã sob o ponto de vista dos islamitas, mas é curioso como, segundo Maomé,
Deus falara a Moisés, a Noé, a Jesus, mas as pessoas desvirtuaram o que havia
sido dito e, portanto, Deus tornou a falar a Maomé. Isso demonstra, de algum
modo, um reconhecimento às outras religiões (judaica e cristã) ou pelo menos ao
ideal original de cada uma delas.
Na Kaaba coabitava uma
infinidade de deuses. Maomé propunha que houvesse apenas um e este único deus
daria unidade aos povos árabes.
O deserto é o palco onde o
filme se desenvolve, ele porta uma beleza poética indescritível. Ao mesmo tempo
em que é o lugar onde não se tem segurança de nada, onde não se sabe se a
sobrevivência estará garantida. O deserto é traiçoeiro, pois sempre o que se vê
pode ser falso, pode ser que se trate apenas de miragens, ilusões de um corpo
sedento e cansado.
Ao mesmo tempo que a perseguição
aumenta e acirram-se os ânimos, os perseguidos vêem suas vidas tomadas por um
novo sentido, pois se uniram, passaram a trabalhar juntos, a prover o bem da
comunidade, a igualarem as classes sociais, possibilitando que escravos
convivam de modo idêntico aos demais e sem serem discriminados e sendo
reconhecido seu valor como seres humanos; há o alento de se lutar por um ideal
comum.
É neste contexto que se dá
a fuga para Medina (hégira) e instala-se o conflito entre esta cidade e Meca.
Assim, povos de uma mesma região ficam divididos.
Quando este conflito é
superado e os chefes de Meca percebem que não há como abafar o movimento suscitado
por Maomé, a religião muçulmana torna-se legítima e dá uma nova identidade aos
povos da península arábica.
Algumas considerações que
podem ser feitas são as seguintes:
1- a religião pode provocar uma
revolução social, promovendo uma aproximação das classes sociais,
desconstruindo algumas maneiras de comportamento perversas;
2- ela, ao mesmo tempo que desaliena
as pessoas, pode também alienar, instaurar a visão que legitima a exploração de
uns sobre os outros, justificada pelo fato de que Deus concede a uns mais
benevolência do que a outros;
3- no filme, a religião concede aos
povos uma unidade antes nunca vista. Isto se desdobra num caráter simbólico que
concede aos indivíduos a identidade, que do ponto de vista político pode ser
estratégico para a sobrevivência deste povo em face de outras grandes nações
tão ou mais poderosas;
4- nota-se como a religião pôde ser o
elemento que fez suscitar um padrão de comportamento mais ético quando fez com
que se percebesse a importância dos escravos, dos animais e que estes mereciam
ser tratados com mais respeito.