sexta-feira, 18 de abril de 2014

RESENHA DO FILME "MAOMÉ, O MENSAGEIRO DE ALÁ"

Resenha do filme “Maomé, o Mensageiro de Alá”.

Sérgio Donizeti Ferreira

           
O filme Maomé, o Mensageiro de Alá, produzido com a finalidade de demonstrar o modo como surgiu o Islã, trata de maneira poética da fundação e do desenvolvimento tumultuado desta nova religião.
            O elemento mais presente no filme é o deserto, bem como as culturas dos povos nele situadas.
            O filme, à guisa de uma narrativa, expõe genericamente o que acontecia em Meca, bem como com os ditos povos árabes, por volta do ano 600 d. C.. Ao redor desta grande península arábica grandes impérios e civilizações achavam-se em decadência. Em Meca realizava-se a festa que agregava um sem numero de deuses que ficavam reunidos na Kaaba, a grande pedra negra. Nota-se o quanto as tribos acreditavam e cultuavam seus deuses próprios, deuses naturais, cada um ligado a um aspecto específico da vida, geralmente a algo de que os homens tinham necessidade. 
            A reunião desses deuses tinha um aspecto comercial, lucrava-se muito com este evento; os chefes de Meca sabiam bem disso, apesar de bastante céticos mantinham este esquema, pois lhes era conveniente: dava lucro e mantinha a coesão social.
            Quando Maomé apareceu no cenário com uma crítica contundente ao esquema em vigor, alegando que Alá é o único Deus,  cria-se uma celeuma e dividem-se as opiniões dos cidadãos acerca desta proposta.
            Alguns jovens seguem a Maomé e por isso sofrem perseguição.
O filme conta a história do Islã sob o ponto de vista dos islamitas, mas é curioso como, segundo Maomé, Deus falara a Moisés, a Noé, a Jesus, mas as pessoas desvirtuaram o que havia sido dito e, portanto, Deus tornou a falar a Maomé. Isso demonstra, de algum modo, um reconhecimento às outras religiões (judaica e cristã) ou pelo menos ao ideal original de cada uma delas.
Na Kaaba coabitava uma infinidade de deuses. Maomé propunha que houvesse apenas um e este único deus daria unidade aos povos árabes.
O deserto é o palco onde o filme se desenvolve, ele porta uma beleza poética indescritível. Ao mesmo tempo em que é o lugar onde não se tem segurança de nada, onde não se sabe se a sobrevivência estará garantida. O deserto é traiçoeiro, pois sempre o que se vê pode ser falso, pode ser que se trate apenas de miragens, ilusões de um corpo sedento e cansado.
Ao mesmo tempo que a perseguição aumenta e acirram-se os ânimos, os perseguidos vêem suas vidas tomadas por um novo sentido, pois se uniram, passaram a trabalhar juntos, a prover o bem da comunidade, a igualarem as classes sociais, possibilitando que escravos convivam de modo idêntico aos demais e sem serem discriminados e sendo reconhecido seu valor como seres humanos; há o alento de se lutar por um ideal comum.
É neste contexto que se dá a fuga para Medina (hégira) e instala-se o conflito entre esta cidade e Meca. Assim, povos de uma mesma região ficam divididos.
Quando este conflito é superado e os chefes de Meca percebem que não há como abafar o movimento suscitado por Maomé, a religião muçulmana torna-se legítima e dá uma nova identidade aos povos da península arábica.
Algumas considerações que podem ser feitas são as seguintes:
1- a religião pode provocar uma revolução social, promovendo uma aproximação das classes sociais, desconstruindo algumas maneiras de comportamento perversas;
2- ela, ao mesmo tempo que desaliena as pessoas, pode também alienar, instaurar a visão que legitima a exploração de uns sobre os outros, justificada pelo fato de que Deus concede a uns mais benevolência do que a outros;
3- no filme, a religião concede aos povos uma unidade antes nunca vista. Isto se desdobra num caráter simbólico que concede aos indivíduos a identidade, que do ponto de vista político pode ser estratégico para a sobrevivência deste povo em face de outras grandes nações tão ou mais poderosas;
4- nota-se como a religião pôde ser o elemento que fez suscitar um padrão de comportamento mais ético quando fez com que se percebesse a importância dos escravos, dos animais e que estes mereciam ser tratados com mais respeito.